Descendentes e familiares
Nesta primeira postagem, Vir ao Japão – Descendentes e Familiares, vamos tratar do assunto de como vir ao Japão a trabalho ou estudo, falando da categoria de descedentes e familiares. Nas postagens subsequentes, abordaremos os meios de vir ao Japão para não descendentes.
Morar no Japão
Existem várias maneiras de se vir ao Japão legalmente, seja para estudar ou trabalhar. Não estou afirmando que é fácil, apenas que é possível. A maneira mais fácil, em termos, é para quem é descendente até a terceira geração (neto de japoneses). Recentemente, houve a liberação para a vinda até a quarta geração (bisneto de japoneses). Mas, os críterios são mais rigosos e poucas pessoas vieram nessa categoria. Até a terceira geração, podem trazer seus filhos e conjuges. Lembrando que os filhos da terceira geração, são considerados quarta geração e quando completarem dezoito anos, se deixarem o Japão pode ser que não consigam voltar.
Fica fácil de entender também, que para quem pretende vir estudar no Japão, e é descendente, é muito mais fácil. Isso porque, o visto de permanência vai facilitar muita coisa. Não vai depender da escola ou do trabalho para obter o visto. Poderá optar por várias formas de estudo, e em qualquer região. Vai ter mais tranquilidade para procurar a escola certa com calma, sem se preocupar em ter o visto cancelado. Terá mais facilidade para ter um emprego com uma renda maior. Além de que, pode estar com o suporte da família e ter os gastos de manutenção bem minimizados.
Descendente diretos e seus familiares
Então, vamos falar inicialmente da categoria de visto para filhos e netos de japoneses e seus familiares. Nesta categoria de visto de permanência, as pessoas podem exercer praticamente qualquer tipo de atividade. Por isso, essas pessoas foram as mais visadas quando teve início o movimento dekasegui no final dos anos 80. Nessa época, o Japão estava com a economia aquecida, muito por causa da bolha de consumo. Por causa da falta de mão de obra não qualificada, o governo resolve alterar a lei de imigração, permitindo que descendentes de japoneses até a terceira geração possam vir trabalhar. O uso do termo “mão de obra não qualificada”, se deve ao fato de que a necessidade de mão de obra era de trabalhadores comuns. Aqueles que vão realmente por a mão massa.
Os imigrantes, eram chamados de “dekasegi” termo formado pela junção da palavra “deru” sair e “kasegu” ganhar dinheiro. Esse termo era originalmente usado para definir os japoneses que saiam de seu ambiente para trabalhar em localidades longínquas. No final dos anos 80 e início dos anos 90, muitos descendentes de japoneses vieram trabalhar no Japão. O perfil dessas pessoas nessa época, em sua grande maioria, era o de pessoas já bem estabelecidas no Brasil, comerciantes; pequenos empresários; pessoas com formação universitária em várias categorias; que vislumbraram uma maneira de fazer uma boa renda extra. Essas pessoas, deixavam sua rotina no Brasil, para se aventurarem em empregos em fábricas japonesas com a promessa de juntarem R$200.000 ou R$300.000 (ou o equivalente da época) em 2 ou 3 anos e voltar ao Brasil.
Na época, isso era possível, porque como a mão de obra estrangeira era muito necessária, o governo fazia vista grossa para muitas coisas. Os imigrantes em sua grande maioria não pagavam o imposto municipal, não pagavam a previdência social, faziam horas de trabalho exorbitantes (14 horas ou mais por dia) e trabalhavam quase sem folga. Além disso, as empresas contratantes, providenciavam toda a infra-estrutura necessária, como tradutores nas linhas de trabalho, alojamento e transporte para o trabalho.
Crise financeira mundial e diminuição da população de imigrantes
Depois da crise internacional causada pela falência do grupo Lehman Brothers em 2008, o Japão entrou em crise financeira. As indústrias automobilística e eletrônica foram as mais afetadas e eram justamente as que mais empregavam os imigrantes. A comunidade brasileira que chegou a ter umas 320 mil pessoas, baixou para menos de 200 mil. E muitas pessoas pegaram o auxílio do governo que era de U$3.000 para o imigrante e U$2.000 para cada dependente que retornasse ao Brasil. Esse auxilio, era oferecido para quem não tinha patrimônio no Japão e era necessário assinar um termo que empedia o retorno ao Japão nos próximos 5 anos.
Aos poucos, a economia voltou a se estabilizar. Mas, a bolha de consumo havia acabado. A mão de obra estrangeira ainda é necessária, por causa do envelhecimento da população japonesa. Entretanto, o cenário atual é completamente diferente. Os imigrantes asiáticos estão em alta. Eles tem faixa salarial mais baixa e tem mais domínio da língua japonesa. Imigrantes brasileiros continuam vindo, mas hoje em dia a situação ficou mais rigorosa. As empresas estão exigindo o domínio básico do idioma japonês; estão preferindo quem tem moradia própria, seja alugada ou adquirida, dão preferência a quem tem seu próprio meio de locomoção.
O governo apertou o cerco, e todos tem que pagar os impostos e previdência, exigindo comprovante do pagamento na hora da renovação dos vistos de permanência. Além disso, criou novas regras que impedem as empresas de fazerem horas extras indiscriminadamente. Outro ponto, é que o salário médio por hora, caiu de ¥1500 para ¥1200. Com tudo isso, a renda média de um imigrante caiu por volta de 50% nestes últimos 25 anos.
E atualmente, vale a pena vir ao Japão a trabalho?
Na minha opinião, é sempre válido conhecer outras culturas. Principalmente, na atual situação em que se encontra o Brasil. O importante, é você estar ciente do que vai encontrar pela frente e estar sempre preparado para os inconvenientes. O Japão não é o Eldorado que te vai fazer ficar milionário, isso nunca existiu. Também hoje em dia, é difícil dizer que se vai poder trabalhar e juntar uma quantia suficiente para fazer um pé de meia para o futuro. Mas, é possível ter uma vida tranquila, vivendo moderadamente, pensando no futuro e na velhice enquanto ainda se é jovem. Quem só pensa em consumo, e gasta tudo como se não houvesse amanhã, com certeza terá problemas na velhice.
A grande escolha a ser feita é: viver uma vida padrão classe média enquanto se é jovem e apto ao trabalho, e ficar longe dos parentes e amigos do Brasil. Ou, voltar ao Brasil com o que der, e seguir tendo boas lembranças do tempo que ficou por aqui. Lembrando que, principalmente quem tem filhos, não vai poder ficar indeciso por muito tempo, pois poderá acarretar graves consequências no futuro dos filhos. As crianças não podem ficar indo e vindo, pois precisam criar a própria base para a vida. E infelizmente, muitas dessas crianças imigrantes, acabam não tendo base para se inserir nas sociedades brasileira ou japonesa.
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