Está servido?

A etiqueta de oferecer algo que degustamos

Aprendemos desde crianças, que oferecer ao amiguinho ou a alguém que está a nossa volta, algo que estamos comendo ou bebendo, faz parte da etiqueta e dos bons costumes de quem vive em sociedade. Claro que não existe uma regra que se deva seguir à risca, mas faz parte daquelas normas de convívio social.  Tenho certeza que é inimaginável para a grande maioria de nós, estarmos ao lado de algum amigo ou conhecido, puxar-mos da bolsa alguma guloseima, comerçar a degustar o manjar na frente da pessoa, e não dizer uma única palavra  ou não fazer nenhum gesto oferecendo o petisco. Então, eu vou te contar uma coisa, aqui no Japão não existe essa preocupação. Sim, não faz parte da cultura japonesa se preocupar em oferecer qualquer coisa que se esteja comendo ou bebendo.  Eu tive essa percepção no primeiro dia em que cheguei aqui.

Enfim chega o dia da viagem

Após muitos planejamentos e preparativos, finalmente chegou o dia de nossa viagem ao Japão. Era setembro de 1992. Embarcamos no aeroporto internacional de Cumbica e o voo saiu à 1 da madrugada.  Nossa escala era São Paulo – Los Angeles – Nagoya.  Saimos a 1 da manhã do dia 27 de setembro (horário do Brasil)  e descemos no aeroporto de Nagoya, às 14 horas do dia 28 de setembro (horário do Japão). Eu, minha esposa e minha filha, que na época tinha 4 anos.  Fomos liberados pela imigração por volta das 15 horas. Eu estava esperando ansiosamente pelo famoso jetlag, ou mal estar causado pelo diferença de fuso horário. Mas, nunca soube o que era isso, pois nada aconteceu comigo.  Meu sogro já estava esperando por nós, junto com um funcionário da empresa que nos contratara.

Desembarque em Nagoya

Diferente da grande maioria dos dekaseguis, nós não viemos para trabalhar por empreiteira. Fomos contratados diretamente pela empresa em que iriamos trabalhar.  Após 24 horas de voo, a viagem até onde passariamos a viver ainda seria longa, mais umas 3 horas. Hoje em dia, existem vias expressas e o tempo de percurso caiu pela metade.  Após 1 hora de viagem, meu sogro informou que iriamos fazer uma parada. A parada foi em um lojinha em que havia de tudo. Hoje conhecemos como as famosas lojas de conveniência, e naquela época, ainda não havia no Brasil.  Aqui no Japão é chamada de “konbini”.  Era uma parada rápida, e nós estávamos cansados da viagem. Minha filha também não queria nada, não estava-mos com fome ou sede. Então, nem descemos do carro.

O primeiro contato com japoneses nativos

O funcionário da empresa, que estava dirigindo a Van que nos levava, era um senhor de uns 65 anos de idade e parente dos donos da empresa que nos contratara.  Tinha sido muito educado na hora da apresentação. Ele desceu do carro, comprou algumas coisas para comer e beber.  Comeu e bebeu tudo na nossa frente e não disse uma palavra e nem ofereceu nada, nem para nossa filha.  A partir dái fomos acostumando.  Após mais algumas horas, chegamos ao nosso destino, que era a Vila do Hirase, no Vilarejo de Shirakawa Go, que fica entre as montanhas na província de Gifu.  A empresa havia construido uma casa novinha para morar-mos.  Nessa casa ficamos, eu, minha esposa e filha, meu sogro  e dois irmãos dele. Moramos em Shirakawa go por 11 anos. O Shacho (presidente da empresa ) e a esposa, estavam nos esperando.  Eu cometi logo de cara a velha gafe, entrei na casa novinha calçado com os sapatos, foi a última vez.

Acostumando com a cultura local

Vários anos depois, minha filha que morou conosco até casar, costumava de vez em quando reunir em casa umas 3 ou 4  amigas da escola ou  do serviço. Geralmente, era para ficar jogando conversa fora e comer alguma coisa que elas traziam e preparavam.  Ficavam na sala, onde está meu computador em que eu sempre tenho um ou outro trabalho para fazer. A cozinha fica ao lado da sala e minha esposa sempre estava por lá nesses momentos. Estou frizando isso, para mostrar que estavamos por perto, quase no meio da conversa.  Mas, não havia comes e bebes para nós. Elas preparavam apenas a quantidade certa para quem estava participando da conversa. Não importava o que fosse: doces, salgadinhos, refrigerantes, bebida alcoólica, etc.  E isso era muito natural.

Venha preparado e não se surpreenda

Então, quando você vir ao Japão, não fique chocado se alguém, mesmo que seja um brasileiro, não pergutar se você está servido de alguma coisa que ele esteja degustando. Essa etiqueta, não faz parte da cultura japonesa. Ao contrário, você também não precisa oferecer. Acredite, não é uma grosseria, é muito natural. E as pessoas não vão entender o sentido caso você ofereça. Mesmo no caso de brasileiros que estão aqui há um bom tempo, talvez pelo costume, às vezes vão demorar a perceber que estão sendo grosseiros de acordo com a etiqueta brasileira. É como baixar a cabeça para cumprimentar. É um gesto automático que se acaba adquirindo aqui, e mesmo quem volta ao Brasil, demora um bom tempo a deixar de fazer o gesto.

 

Imagem de capa by feepik.com

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